18 de abril de 2010

Por que tantos porques ?

1º CASO – PORQUE

(junto e sem acento)

a) conjunção causal/explicativa, equivalente a POIS ou COMO

“ Não foi ao baile, porque (=pois) não tinha roupa.”

“Porque (=como) não estava autorizado, não pôde ingressar no recinto.”

b) conjunção causal/explicativa em interrogações com caráter de objeção, dúvida ou surpresa.

Um diálogo:

_ Paulo não veio à aula porque (=pois) não tem caderno.

_ Não veio à aula porque (=pois) não tem caderno? Não creio, não.

c) conjunção subordinativa final (= para que)

"Tudo fizemos porque (= para que) ele sarasse do mal que o afligia."

2º CASO – PORQUÊ

(junto e com acento)

a) substantivo (=pergunta; causa, razão)

“Ignora-se o porquê (= a causa) da sua renúncia.”

“São muitos os porquês (= as perguntas) que estão sem resposta.”

Obs.: Em geral, o PORQUÊ substantivo é precedido de artigo.

b) conjunção causal/explicativa em “discurso” interrompido pela superposição de outro “discurso”.

Um diálogo:

_ Eu lhe tinha pedido permissão para sair mais cedo porquê...

_ Estão proibidas as saídas cedo.

Obs: Não é unânime a acentuação de PORQUE, nessa hipótese.

3º CASO – POR QUE

(separado e sem acento)

a) preposição POR (regência verbal ou nominal) + conjunção integrante QUE.

(1) “Opinou por que se concedesse a licença.”

Opinou por isto = oração subordinada substantiva objetiva indireta.

(2) “Sempre se mostrou interessado por que se concluísse a negociação.”

Interessado por isto = oração subordinada substantiva completiva nominal.

b) preposição POR + pronome relativo QUE

“São ásperos os caminhos por que passei.”

POR QUE (= pelos quais caminhos) – adjunto adverbial de lugar “por onde”.

Passei pelos quais caminhos.

c) preposição POR + pronome interrogativo substantivo QUE (= qual coisa)

(1) Interrogação Direta

“Por que (= por qual coisa) estavas tu, na época, interessado?

POR QUE (= por qual coisa) – complemento nominal de “interessado”

(2) Interrogação Indireta

“Não se sabe por que (por qual coisa) estavas tu, na época, interessado.”

Não se sabe isto (= oração subordinada substantiva subjetiva)

POR QUE (= por qual coisa) – complemento nominal de “interessado”.

d) preposição POR + pronome interrogativo adjetivo QUE (= qual)

(1) Interrogação Direta

“Por que cargo estavas tu, na época, interessado?”

POR QUE CARGO (= por qual cargo) – QUE – adjunto adnominal de “cargo”

(2) Interrogação Indireta

“Não se sabe por que cargo estavas tu, na época, interessado”

Não se sabe isto (= oração subordinada substantiva subjetiva)

POR QUE CARGO (= por qual cargo)

QUE – adjunto adnominal de “cargo”.

e) POR QUE (=por qual motivo, razão) – advérbio interrogativo de causa

(1) Interrogação Direta

“Por que foste reprovado?”

POR QUE (= por qual motivo) – adjunto adverbial de causa

(2) Interrogação Indireta

“Quero saber por que foste reprovado.”

Quero saber isto (= oração subordinada substantiva objetiva direta)

POR QUE (= por qual motivo) – adjunto adverbial de causa.

4º CASO – POR QUÊ

(separado e com acento) – advérbio interrogativo no final de frase interrogativa

(1) Interrogação Direta

“Não vais à aula por quê?”

POR QUÊ (= por qual motivo) – adjunto adverbial de causa

(2) Interrogação Indireta Atípica

“Foi reprovado e não sabe por quê.”

Obs.: Esta coordenação (E) é meramente formal. Em verdade, a estrutura matriz é:

“(Ele) não sabe por que foi reprovado.”

Note-se que o adjunto adverbial de causa (por quê) não pertence para o verbo SABER, como parece, mas sim para o verbo REPROVAR (Ele foi reprovado por quê?). Criou-se, então, uma estrutura inteiramente atípica: uma interrogação indireta sem o concurso de oração subordinada substantiva. Esta é a razão de a interrogação não estar marcada com “ponto-de-interrogação” (?): “Não sabe por quê?”, o que seria coisa inteiramente diversa.

5ª CASO: POR QUÊ

(separado e com acento) – advérbio interrogativo no final de segmento melódico, embora não coincida com o final da frase gramatical.

“Por quê, divino mestre,

Com teu poder celeste,

Ao homem que cegara,

De novo ver fizeste?”

(Francisco Otaviano)

Esse QUÊ (Por quê) é, de fato, monossílabo tônico, pois, embora não esteja no final da frase, está no final de um segmento melódico, já que a aposição (divino mestre) e a inversão de toda a estrutura interrompem a seqüência melódica que teria a frase em disposição regular.

“Por que fizeste ver de novo o homem que cegara?”

Obs.: O domínio dos fenômenos da fonética sintática exigiria do redator a acentuação gráfica desse monossílabo, indiscutivelmente tônico; nem sempre, contudo, isto ocorre.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

1ª) Depois da partícula designativa EIS, escreve-se POR QUE (separado)

“Eis por que ela não pôde voltar.”

Obs.: O QUE é pronome relativo de um antecedente elíptico.

“Eis (a razão) por que (= pelo qual) ela ...

2ª) Em títulos ou manchetes, grafa-se POR QUE (separado)

POR QUE FOI CASSADO O PREFEITO.

Obs.: Semelhantemente ao caso anterior, o QUE é pronome relativo.

(A razão) por que (= pelo qual) foi cassado...

3ª) POR QUE (= por qual, por qual coisa) é preposição + pronome interrogativo;

POR QUE (= por qual razão) é advérbio interrogativo de causa.

4ª) PORQUE, conjunção final (= para que) é, segundo a tradição da língua, grafado junto, embora se encontrem exemplos com POR QUE (separado)

“Faço votos porque (= para que) sejam felizes.” (comum)

“Faço votos por que (= para que) sejam felizes.” (raro)


Postagem retirada do site:http://www.vemconcursos.com/opiniao/index.phtml?page_old=1&page_ordem=alfa&page_id=61

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